Adoração
a Cristo ou à benção?
Temos tido momentos de muita
tensão no que diz respeito à situação do mundo atual, o desemprego e a
miséria, decorrentes de um sistema socioeconômico cada vez mais difícil e uma
política que massacra a maioria e prioriza uma minoria. E isso não é
novidade pra ninguém. Mas o problema é que essa situação tem
trazido para nossas igrejas um culto um tanto egoísta, tirando o foco
principal que é, e sempre foi, a adoração ao Senhor. Por
isso, quero comentar acerca de algo que tenho visto na igreja que tem, de
certa forma, me deixado preocupado. Vou contar uma experiência pessoal que tive
e tenho tido com frequência.
Estive ministrando há algum tempo em uma
determinada igreja e percebi que, no momento da adoração, a igreja não parecia
estar muito entusiasmada com as palavras que estávamos cantando (que dizia
acerca da morte, da ressurreição e da glorificação de Cristo). Então pensei,
nem todo dia as pessoas estão dispostas a cantarem, e isso é normal, em
decorrência do cansaço após um dia de trabalho, estresse do trânsito... Enfim,
problemas de toda a sorte, que todos temos. Ou o problema era eu
mesmo, que precisava orar mais, sei lá, ou simplesmente Deus não queria
manifestar sua glória etc. Até ai eu entendo, mas não demorou muito para,
depois do louvor, uma pessoa gritar lá na frente uma daquelas famosas
frases, tipo: "RECEBE AI IRMÃO IRMÃO! Hoje é o seu dia! Eu determino! Eu
profetizo!". E aquelas mesmas pessoas que a pouco não conseguiam nem
levantar as mãos para louvar o Cristo ressuscitado, começaram a pular e glorificar,
e alguns até chorar. No mínimo estranho né? Pois é, então percebi que, tanto
aquelas pessoas ou pelo menos a maioria, não todas, estavam prestando um culto
um tanto mercenário, ou seja, eu adoro mediante as bençãos que recebo.
A morte de Cristo para muitos,
infelizmente, está perdendo o valor. E isto esta virando um modismo em
várias igrejas. As letras das canções e os temas das pregações são voltados
normalmente para o EU, eu, eu, eu e eu em primeiro lugar, e isto é
lamentável. Claro que podemos ser prósperos e que Deus pode nos abençoar
se Ele quiser, é claro, mas isso não pode tomar o lugar da verdadeira
mensagem do evangélico que sempre foi o reino de Deus e nao reino dos homens.
Inclusive temos uma música baseada em Dt 28 que diz; "...Se eu
ouvir tua voz e te obedecer...aonde quer que eu vá as tuas
bençãos me seguirão...". Mas
não porque nós ordenamos que Ele faça o que queremos, pois o própio
Jesus disse:..´´VENHA NÓS O TEU REINO SEJA FEITA A TUA VONTADE...(Mt
6.10). Tudo está no controle dEle, sob a vontade dEle, quem somos nós para determinamos
o que Deus pode fazer? Independente do que ganhamos dEle ou se Ele não quiser
dar, Ele é Deus e temos que adorá-lo.
Essas ideologias estão ganhando cada vez
mais força, denominada de "Confissao Positiva ou Teologia da Prosperidade". Esse
movimento começou nos Estados Unidos pelo teólogo Kenneth Hagin na década
de 70 e foi difundida pelas igrejas neopentecostais no Brasil, e hoje é
aceita por muitos pentecostais, praticamente como regra de fé.
Está gritante e insuportável ouvir sempre os mesmos e velhos
jargões ditos pelos ''SUPERCRENTES". O pior é que muitas pessoas
que são bombardeadas por essas ideologias e não alcançam seu ideais(casa, carro,
dinheiro...etc), terminam se esfriando na fé ou tornam-se crentes apáticos,
sempre estão murmurando e cobiçando as grandezas dos outros, e por não estarem
alicerçados no verdadeiro cristianismo, acabam abandonando suas igrejas. A
mensagem da cruz e a promessa de irmos morar no céu com Jesus,
não faz mais efeitos para os tais.
Outra coisa que tenho
observado é alguns irmãos querendo que seus inimigos sejam
envergonhados com frases tipo: ''Vou subir num pódio, meus inimigos verão
minha exaltação, chegou a hora de ser exaltado" e outras coisas mais. Eu
nunca vi Jesus pedir parar ser exaltado perante seus inimigos, pelo contrário,
ele pedia para abençoá-los e amá-los (Mt.5,44). No tempo de Davi sim, a
luta era contra seus inimigos, dai a oração dele: "... prepara
uma mesa perante os meus inimigos..." (Sl 23,5), mas hoje nossa
luta não é contra a carne, nem sangue, mas contra os principados
das trevas (Ef.6.12). Quem tem que ser envergonhado é o inimigo de nossas
almas com nossas atitudes como cristãos e adoradores do Deus altíssimo. Isso
sim, tarefa que aliás não é nada fácil. Irmãos, acho que estamos
perdendo o foco da adoração, não quero aqui ser o dono da razão, confesso
que já até fui influenciado por esses movimentos e
comecei a prestar um culto mercenário, onde minha vontade e meus interesses
vinham em primeiro lugar e não o reino de Deus, como Jesus nos ensinou em
(MT.6,10).Todos nós temos essa tendência, até mesmo por uma questão de
necessidade. Mas acho que não é isso que Ele quer de nossa adoração.
Vamos orar para que haja em
nós a gratidão pelo que Jesus fez por nós, mais do que qualquer outra
coisa, como disse Paulo aos hebreus "prestemos um culto
racional" (Rm 12.1) ou seja , com entendimento, para que não caiamos
nessa cilada. Há muitas pessoas agindo assim por falta de ensinamento,
pois seus pastores querem garantir um culto "pentecostal" e cheio, ai
proferem coisas que as pessoas querem ouvir, tipo uma terapia de autoajuda
daquelas do Lair Ribeiro, dessa forma o mais importante do culto,
que sempre foi a adoração e a devoção ao nosso Deus, torna-se secundária.
Eles invertem a ordem e fica ""primeiramente as
coisas da terra e depois as do céu''...Quando seria: "Mas,
buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos
serão acrescentadas."(Mt 6.33).
Voltemos pois a adorar ao
Senhor pelo que Ele é e não pelo que Ele tem para nos dar, porque maior
que todas as riquezas desse mundo, é a nossa salvacão, e Jesus ja nos deu
através da sua cruz. Lembremo-nos das palavras de Paulo: ''Sei o que é estar necessitado e sei também o que é
ter mais do que é preciso. Aprendi o segredo de me sentir contente em todo
lugar e em qualquer situação, quer esteja alimentado ou com fome, quer tenha
muito ou tenha pouco". (Fl 4.12).
Fiquem com Deus.